Uma função vetorial é um mapeamento que associa:
Notação: \(\mathbf{F}: \mathbb{R}^n \to \mathbb{R}^m\)
Para compreender funções vetoriais, partamos do familiar:
Função Escalar: \(f(x) = 2x\)
Para cada número real \(x\), obtemos um único número real \(y\).
Função Vetorial: \(\vec{F}(t) = (x(t), y(t), z(t))\)
Para cada número real \(t\), obtemos um vetor com múltiplas componentes.
Uma função vetorial é qualquer função que produz vetores como saída
Podem ter diferentes tipos de domínio, por exemplo:
Quando descrevemos o movimento de um objeto no espaço, precisamos especificar múltiplas informações simultaneamente. Em cada instante \(t\), precisamos conhecer:
1. Movimento Circular
\[\vec{r}(t) = (R\cos t, R\sin t)\]
Esta função descreve uma trajetória circular de raio R no plano.
Uma função vetorial \(\vec{F}: \mathbb{R}^n \to \mathbb{R}^m\) pode ser interpretada de três formas complementares:
Campos Gravitacionais:
O campo gravitacional é uma função vetorial que associa a cada ponto do espaço um vetor força:
\[\vec{g}(x,y,z) = -G\frac{M}{r^3}(x,y,z)\]
Uma função vetorial \(\vec{F}: \mathbb{R}^n \to \mathbb{R}^m\) é um mapeamento que:
Definição: Um campo vetorial \(\vec{F}\) em um conjunto aberto \(U \subseteq \mathbb{R}^n\) é uma função
\(\vec{F}: U \to \mathbb{R}^n\)
que associa a cada ponto \(\vec{p} \in U\) um vetor \(\vec{F}(\vec{p}) \in \mathbb{R}^n\)
Exemplo em \(\mathbb{R}^2\):
\(\vec{F}(x,y) = (x^2-y)\vec{i} + (x+y^2)\vec{j}\)
Todo campo vetorial é uma função vetorial onde:
Mas nem toda função vetorial é um campo vetorial!
Exemplo: A trajetória de uma nave \(\vec{r}(t) = (x(t), y(t), z(t))\)
Função Vetorial \(\vec{r}: \mathbb{R} \to \mathbb{R}^n\)
Campo Vetorial \(\vec{F}: \mathbb{R}^n \to \mathbb{R}^n\)
Imagine o campo gravitacional ao redor de um planeta... 🌍
Em cada ponto do espaço, temos:
Isso é um campo vetorial!
Para cada ponto do espaço, associamos um vetor que representa a força.
🌠 Campo gravitacional de sistemas planetários
☀️ Vento solar
🌍 Campo magnético terrestre
🛸 Trajetórias de naves espaciais
Que outros exemplos de campos vetoriais você consegue identificar na exploração espacial?
Os pontos de Lagrange são posições no espaço onde as forças gravitacionais de dois corpos celestes e a força centrífuga se equilibram, permitindo que um objeto menor permaneça em uma posição relativamente estável.
Imagine uma sonda espacial:
Estas questões nos levam a conceitos importantes:
Campos vetoriais são essenciais para:
Definição formal: Uma função vetorial \(\vec{F}: D \subset \mathbb{R}^n \to \mathbb{R}^m\) é contínua em \(\vec{a}\) se:
\[\lim_{\vec{x} \to \vec{a}} \vec{F}(\vec{x}) = \vec{F}(\vec{a})\]
Ou seja, para todo \(\varepsilon > 0\), existe \(\delta > 0\) tal que:
\[\|\vec{x} - \vec{a}\| < \delta \implies \|\vec{F}(\vec{x}) - \vec{F}(\vec{a})\| < \varepsilon\]
Imagine um satélite em órbita:
Sua trajetória é descrita por uma função vetorial contínua \(\vec{r}(t)\)
\[\vec{r}(t) = \begin{pmatrix} x(t) \\ y(t) \\ z(t) \end{pmatrix}\]
A continuidade garante que não há "saltos" na trajetória
Considere a trajetória simplificada de um foguete:
\[\vec{r}(t) = \begin{pmatrix} v_0t \\ h_0 + v_0t - \frac{1}{2}gt^2 \end{pmatrix}\]
Onde:
Durante a corrida espacial, detectar descontinuidades era crucial:
Uma descontinuidade pode indicar:
\[\lim_{t \to t_0^-} \vec{F}(t) \neq \lim_{t \to t_0^+} \vec{F}(t)\]
Uma função vetorial \(\vec{F}(x,y) = \begin{pmatrix} F_1(x,y) \\ F_2(x,y) \end{pmatrix}\) é contínua se e somente se:
Cada componente \(F_1(x,y)\) e \(F_2(x,y)\) é contínua
Exemplo: Campo gravitacional da Terra
\[\vec{g}(x,y,z) = -G\frac{M}{r^3}\begin{pmatrix} x \\ y \\ z \end{pmatrix}\]
Para uma função \(\mathbf{F}(x,y)\), definimos:
\(\frac{\partial \mathbf{F}}{\partial x} = \lim_{h \to 0} \frac{\mathbf{F}(x+h,y) - \mathbf{F}(x,y)}{h}\)
\(\frac{\partial \mathbf{F}}{\partial y} = \lim_{h \to 0} \frac{\mathbf{F}(x,y+h) - \mathbf{F}(x,y)}{h}\)
Interpretação: Taxa de variação em uma direção, mantendo as outras variáveis constantes
Derivada em x: "Fatia" perpendicular ao eixo y
Derivada em y: "Fatia" perpendicular ao eixo x
A missão Vostok 1 (1961) marcou a primeira vez que um ser humano orbitou a Terra. Em meio à Guerra Fria, os soviéticos precisavam garantir não só que Yuri Gagarin chegasse ao espaço, mas que retornasse em segurança - um desafio matemático sem precedentes.
Para este feito histórico, as derivadas parciais foram cruciais para:
Potencial gravitacional: \(\phi(x,y,z) = -\frac{GM}{r}\)
onde \(r = \sqrt{x^2 + y^2 + z^2}\)
Calcule: \(\frac{\partial \phi}{\partial x}\)
Para uma órbita circular de raio R, temos a energia total:
\(E(v,r) = \frac{1}{2}mv^2 - \frac{GMm}{r}\)
Calcule:
Para um campo vetorial \(\vec{F}(x,y) = P(x,y)\hat{i} + Q(x,y)\hat{j}\), temos:
\(\frac{\partial \vec{F}}{\partial x} = \frac{\partial P}{\partial x}\hat{i} + \frac{\partial Q}{\partial x}\hat{j}\)
\(\frac{\partial \vec{F}}{\partial y} = \frac{\partial P}{\partial y}\hat{i} + \frac{\partial Q}{\partial y}\hat{j}\)
Considere o campo de velocidade do vento solar:
\(\vec{v}(x,y) = \frac{kx}{r^3}\hat{i} + \frac{ky}{r^3}\hat{j}\)
onde \(r = \sqrt{x^2 + y^2}\) e \(k\) é uma constante.
A derivada parcial em x é?
Esta derivada nos dá a taxa de variação do vento solar na direção x, crucial para prever a interação com satélites e escudos magnéticos.
O rotacional de um campo vetorial \(\vec{F} = (F_x, F_y, F_z)\) é definido como:
$$ \nabla \times \vec{F} \;=\; \begin{vmatrix} \hat{i} & \hat{j} & \hat{k} \\ \frac{\partial}{\partial x} & \frac{\partial}{\partial y} & \frac{\partial}{\partial z} \\ F_x & F_y & F_z \end{vmatrix} $$
Expandindo o determinante:
$$ \nabla \times \vec{F} \;=\; \left(\frac{\partial F_z}{\partial y} - \frac{\partial F_y}{\partial z},\; \frac{\partial F_x}{\partial z} - \frac{\partial F_z}{\partial x},\; \frac{\partial F_y}{\partial x} - \frac{\partial F_x}{\partial y}\right) $$
$$(\nabla \times \vec{F})_z = \frac{\partial F_y}{\partial x} - \frac{\partial F_x}{\partial y}$$
Pense em um campo de velocidade \(\vec{V}\) gerado por um ventilador no centro de uma sala:
Estas perguntas não exigem cálculos, apenas interpretação física do conceito.
Considere o campo vetorial que modela um redemoinho em torno do eixo z:
$\vec{F}(x,y,z) = (-y, x, 0)$
Calcule o rotacional deste campo e interprete fisicamente o resultado.
Dica: Visualize o movimento circular em torno do eixo z e observe o padrão de "giro".
Calculando o rotacional de $\vec{F}(x,y,z) = (-y, x, 0)$:
$\nabla \times \vec{F} = \begin{vmatrix} \hat{i} & \hat{j} & \hat{k} \\ \frac{\partial}{\partial x} & \frac{\partial}{\partial y} & \frac{\partial}{\partial z} \\ -y & x & 0 \end{vmatrix}$
$\nabla \times \vec{F} = \hat{i}\left(\frac{\partial 0}{\partial y} - \frac{\partial x}{\partial z}\right) + \hat{j}\left(\frac{\partial -y}{\partial z} - \frac{\partial 0}{\partial x}\right) + \hat{k}\left(\frac{\partial x}{\partial x} - \frac{\partial -y}{\partial y}\right)$
$\nabla \times \vec{F} = \hat{i}(0 - 0) + \hat{j}(0 - 0) + \hat{k}(1 - (-1)) = \hat{k}(2) = (0, 0, 2)$
Interpretação física: O rotacional aponta no eixo z com magnitude 2, indicando uma rotação no sentido anti-horário em torno deste eixo. Esse campo tem vorticidade constante, como um fluido girando uniformemente.
Considere o campo vetorial radial:
$\vec{F}(x,y,z) = (x, y, z)$
Calcule o rotacional deste campo e explique por que ele é irrotacional. Encontre uma função potencial φ tal que $\vec{F} = \nabla \phi$.
Dica: Campos gradientes são sempre irrotacionais.
Calculando o rotacional de $\vec{F}(x,y,z) = (x, y, z)$:
$\nabla \times \vec{F} = \begin{vmatrix} \hat{i} & \hat{j} & \hat{k} \\ \frac{\partial}{\partial x} & \frac{\partial}{\partial y} & \frac{\partial}{\partial z} \\ x & y & z \end{vmatrix}$
$\nabla \times \vec{F} = \hat{i}\left(\frac{\partial z}{\partial y} - \frac{\partial y}{\partial z}\right) + \hat{j}\left(\frac{\partial x}{\partial z} - \frac{\partial z}{\partial x}\right) + \hat{k}\left(\frac{\partial y}{\partial x} - \frac{\partial x}{\partial y}\right)$
$\nabla \times \vec{F} = \hat{i}(0 - 0) + \hat{j}(0 - 0) + \hat{k}(0 - 0) = (0, 0, 0)$
Função potencial: $\phi(x,y,z) = \frac{x^2 + y^2 + z^2}{2}$
Verificação: $\nabla \phi = \left(\frac{\partial \phi}{\partial x}, \frac{\partial \phi}{\partial y}, \frac{\partial \phi}{\partial z}\right) = (x, y, z) = \vec{F}$
Interpretação: O rotacional é zero em todos os pontos, portanto não há tendência de "giro". Este campo representa um fluxo puramente expansivo, apontando radialmente para fora a partir da origem.
O rotacional se conecta com outros conceitos através do Teorema de Stokes:
$\oint_C \vec{F} \cdot d\vec{r} = \iint_S (\nabla \times \vec{F}) \cdot \hat{n} \, dS$
Este teorema relaciona a circulação do campo ao longo de uma curva fechada com o fluxo do rotacional através da superfície delimitada por esta curva.
O divergente de um campo vetorial tridimensional \(\vec{F} = (F_x, F_y, F_z)\) é definido como:
$$\nabla \cdot \vec{F} = \frac{\partial F_x}{\partial x} + \frac{\partial F_y}{\partial y} + \frac{\partial F_z}{\partial z}$$
Onde \(\nabla\) (nabla) é o operador diferencial vetorial:
$$\nabla = \left(\frac{\partial}{\partial x}, \frac{\partial}{\partial y}, \frac{\partial}{\partial z}\right)$$
O divergente mede o quanto um campo vetorial se comporta como fonte ou sumidouro em um ponto específico.
Imagine o campo vetorial como o fluxo de um fluido:
Considere um pequeno cubo ao redor de um ponto:
O divergente mede a taxa líquida de fluxo saindo das faces do cubo, quando seu volume tende a zero.
Um campo vetorial radial para fora: \(\vec{F}(x,y,z) = (x, y, z)\)
Divergente: \(\nabla \cdot \vec{F} = 3\) (constante positiva)
As linhas de campo se afastam do ponto central - comportamento de fonte.
Um campo vetorial radial para dentro: \(\vec{F}(x,y,z) = (-x, -y, -z)\)
Divergente: \(\nabla \cdot \vec{F} = -3\) (constante negativa)
As linhas de campo convergem para o ponto central - comportamento de sumidouro.
Um campo de rotação: \(\vec{F}(x,y,z) = (-y, x, 0)\)
Divergente: \(\nabla \cdot \vec{F} = 0\)
O fluxo circula em torno da origem - não há criação nem destruição de fluxo.
Considere a componente-x do campo atuando nas faces perpendiculares ao eixo-x:
A diferença entre o valor de \(F_x\) nas faces é aproximadamente \(\frac{\partial F_x}{\partial x} \Delta x\)
A taxa líquida de fluxo por unidade de volume é:
$$\nabla \cdot \vec{F} = \lim_{\Delta V \to 0} \frac{\text{Fluxo Líquido}}{\Delta V}$$
Que resulta exatamente na soma das derivadas parciais:
$$\nabla \cdot \vec{F} = \frac{\partial F_x}{\partial x} + \frac{\partial F_y}{\partial y} + \frac{\partial F_z}{\partial z}$$
O Teorema da Divergência (Gauss) relaciona o divergente de um campo vetorial em um volume com o fluxo através da superfície que o envolve:
$$\iiint_V (\nabla \cdot \vec{F}) \, dV = \iint_S \vec{F} \cdot \vec{n} \, dS$$
Esta relação é fundamental na eletrostática, magnetismo e dinâmica de fluidos - áreas críticas para o desenvolvimento aeroespacial durante a Guerra Fria.
Este assunto será abordado com detalhes no futuro!
Calcule o divergente do campo gravitacional:
$$\vec{g}(x,y,z) = -G\frac{M}{r^3} \vec{r}$$
Onde \(\vec{r} = (x, y, z)\) e \(r = \sqrt{x^2 + y^2 + z^2}\).
Dica: Para pontos fora da massa \(M\), qual o valor esperado para o divergente?
Para o campo gravitacional:
$$\vec{g}(x,y,z) = -G\frac{M}{r^3} \vec{r} = -G\frac{M}{r^3} (x, y, z)$$
Calculando o divergente para \(r \neq 0\) (fora da massa):
$$\nabla \cdot \vec{g} = 0$$
O divergente do campo gravitacional é zero no espaço vazio - um resultado importante da Lei da Gravitação de Newton!
Considere o campo $\vec{F}(x,y) = (2x, 3y).$ Passo a passo:
Dica: Visualize linhas de fluxo desse campo e identifique se há alguma "fonte" ou "sumidouro".
Seja o campo em 3D: $\vec{G}(x,y,z) = (xy,\; x^2 - y^2,\; z^3 + xy).$ Tarefa:
Para discussão em turma: Pense em como esse campo poderia representar um sistema fluido ou elétrico. Onde "acumula" e onde "espalha" fluxo?